A discussão sobre a proibição do uso de celulares nas escolas, proposta pelo Ministério da Educação e endossada pelo senador Flávio Arns, suscita um debate crucial sobre os limites da tecnologia em ambientes educacionais e, principalmente, sobre a responsabilidade compartilhada entre pais e professores na formação dos alunos. A crescente presença de dispositivos eletrônicos em sala de aula, se por um lado pode ser vista como uma oportunidade de ampliar o acesso ao conhecimento, por outro, tem se mostrado uma fonte significativa de distração, impactando negativamente o aprendizado.
Dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes de 2022 revelam que 45% dos estudantes brasileiros se distraem com celulares durante as aulas de Matemática. Esse número é preocupante, pois ultrapassa em 15 pontos a média dos países da OCDE, evidenciando que o Brasil enfrenta um problema grave de foco e concentração em sala de aula.
Nesse contexto, o papel dos pais e professores torna-se ainda mais relevante. A responsabilidade pela educação das crianças e adolescentes não pode ser delegada apenas à escola. Os pais desempenham um papel crucial na orientação e monitoramento do uso de celulares pelos filhos. Cabe a eles estabelecer limites claros para o uso dos dispositivos, tanto em casa quanto na escola, promovendo o entendimento de que a tecnologia deve ser uma ferramenta, e não um obstáculo ao aprendizado. Infelizmente, muitos pais tendem a ser permissivos ou, até mesmo, ausentes nesse controle, transferindo para a escola o ônus dessa fiscalização.
Por outro lado, os professores, que já carregam uma série de responsabilidades no processo educacional, não podem se furtar de adotar uma postura ativa no combate ao uso inadequado de celulares durante as aulas. No entanto, sua ação deve ser complementada com uma abordagem pedagógica que utilize a tecnologia de forma integrada e controlada, para evitar que o celular seja visto pelos alunos como um mero objeto de entretenimento. Em muitos casos, o próprio ambiente escolar falha ao não oferecer diretrizes claras sobre o uso desses dispositivos, o que agrava ainda mais o problema.
A proibição total do uso de celulares, como está sendo debatido no Senado, pode parecer uma solução simplista. Contudo, ela não resolve a raiz do problema, que é a falta de educação digital e de um diálogo claro entre família e escola. Em vez de banir, seria mais produtivo que o projeto de lei propusesse políticas de uso responsável, onde o celular pudesse ser utilizado como uma ferramenta pedagógica supervisionada. Para isso, o envolvimento tanto dos pais quanto dos professores na criação de um ambiente educativo equilibrado é imprescindível.
Em última análise, a solução para o problema do uso de celulares nas escolas passa por uma conscientização coletiva. A simples proibição pode gerar resistência e até desinteresse por parte dos alunos, enquanto uma abordagem que envolva o diálogo entre todas as partes, acompanhada de ações práticas e bem delineadas, pode resultar em uma educação mais eficaz e preparada para os desafios do século XXI.