Cesar Augusto Cavazzola Junior
Como disse Eugène Ionesco: “Devemos escrever para nós mesmos. É assim que poderemos chegar aos outros.”
Não são raros os sujeitos que se sentem pouco integrados com o mundo. Vivem como caramujos, isolados numa ilha em torno de si mesmo. Muitos sentem que a maior parte dos seus projetos fracassam quando envolvem outras pessoas, então escrever para que possam colocar sobre os seus ombros os motivos o andamento de suas vidas. Sim, muitos são sujeitos ilhados em torno de si.
Escrever é um ato estritamente individual. Por isso, você não pode delegar para a sua secretária a tarefa. Terceirização não serve para tudo. Se pensar nisso, procure fazer outra coisa da sua vida.
Então escrever é um trabalho que só depende do escritor, e que pode ajudá-lo a colocar para fora todos os meus anseios e temores. Tudo acaba se tornando uma desculpa para escrever. Quando você se torna escritor, as pessoas até compreendem e dão plena liberdade para realizar suas tarefas.
Cada vez que você escrever alguma coisa é como se estivesse de frente para uma plateia e fosse tirando uma peça de roupa por vez. Simplesmente não dá para se meter a escrever sem mostrar um pouco daquilo que você é.
Então, caso decida seguir esse caminho, esteja ciente de que, de uma forma ou outra, você vai expor um pouco de si. Se souber lidar bem com isso, comece o trabalho de uma vez.
Quem começa a escrever muitas vezes peca por querer estar devidamente preparado. Muitos param no meio do caminho por se sentirem ainda inaptos para a tarefa. Trata-se de um equívoco comum, ignorando um sem-número de exemplos na nossa sociedade: é preciso pensar, por exemplo, num atleta olímpico, em quantas horas de treino são necessárias até o dia da prova.
Portanto, para que um livro seja finalizado, são necessárias muitas horas de trabalho, sem contar todo o treino que antecedeu a execução da obra: leituras, exercícios de imitação, muitas histórias ruins – outras inacabadas.
Não há de se negar que, dependendo do conteúdo a ser trabalhado, exigem-se algumas qualificações específicas para tal. Imagine se dispor a escrever um tratado de matemática se não tem nem as noções básicas do assunto? Ficaria bem difícil.
Qualquer trabalho que você vai realizar na sua vida depende de certa preparação, mas o pecado que se comete está relacionado com a “medida do quanto”. Muitos querem começar a escrever apenas quando dominar análise sintática… uma pena! A decisão de aprender ou não será sempre uma questão de atitude. Conforme as palavras de Erasmo de Rotterdam, “o desejo de escrever desenvolve-se escrevendo”.
Assim como a leitura, cada vez se lê mais e se escreve mais. As pessoas estão conectadas à internet e interagem pelas redes sociais: muitas passam os dias fazendo isso. Então, elas estão lendo e escrevendo o tempo todo. O problema dessa afirmação não reside na quantidade do que se lê ou escreve, mas na qualidade. O esforço para realizar um trabalho produtivo é pouco. No entanto, compensar com quantidade a falta de qualidade trata-se de um problema da sociedade atual.
Escrever é exprimir-se por meios de caracteres ou sinais gráficos. Não há mistério: é coordenar esse processo para uma finalidade produtiva. O hábito vai solidificando e aprimorando a capacidade de escrever.
Ser escritor deve ser algo visto mais como uma vocação do que como uma profissão. São coisas completamente diferentes. O trabalho visa que você se dedique algumas horas do seu dia para desenvolver alguma atividade produtiva e que seja capaz de auxiliá-lo financeiramente. A vocação, por outro lado, é algo que você se sente chamado a fazer, capaz de transcender a si mesmo. É um impulso incapaz de ser freado. Você sente que deve fazer, que só você pode fazer e que se morrer fazendo aquilo vai em paz, ciente de que cumpriu o seu papel no mundo existencial.
Escrever pode ser uma vontade sua, apenas, e não uma vocação. Não há problema nenhum nisso. Cada pessoa sabe dos seus propósitos e suas motivações. Como disse Eugène Ionesco: “Devemos escrever para nós mesmos. É assim que poderemos chegar aos outros.”