Frei Afonso é muito conhecido aqui na região de Mogi-Mirim. Não só é nosso pároco, como o sujeito que me casou – ainda não sei se devo agradecê-lo por isso. Comprido, corpulento e manso como aqueles açudes onde costumo pescar com meu pai no Rio Grande do Sul. Sabe aquelas pessoas que pensam duas vezes antes de dar uma resposta? Tenho por mim que ele pensa muito mais.
Frei Afonso custou a ganhar a confiança dos meus filhos Benício e Antônio. Foram alguns bons anos até que se acostumassem com a presença do pároco. Tenho por mim que a desconfiança vem de alguma parte da minha família que desconheço, pois somos muito amigáveis. Mas criança é criança, e o padre sempre perdoa, tanto que Frei Afonso jamais se queixou conosco das vezes em que meus pequenos corriam feito átomos eletrizados durante suas missas. Agora, com a graça de Deus e muita persistência da nossa parte, ficam parados em boa parte da celebração.
Como todos chamamos o Frei Afonso pela junção da alcunha mais nome, creio que as crianças, de tanto assim ouvirem, tomaram como nome próprio composto, tal qual o pai, Cesar Augusto. Frei mais Afonso soa bem, é preciso constatar.
Costumo ir com os meninos no parque praticamente todo final de tarde. Numa dessas andanças, um menino se apresentou como Afonso para eles, quando o Benício responde:
– Ah! Oi, Frei Afonso.
Não preciso dizer que o pai da criança ficou sem entender. O filho dos outros é sempre estranho, então ficou por isso mesmo.
– Meu filho, o menino é Afonso, não Frei.
Como vou explicar para uma criança de 4 anos que diabos é uma alcunha?
– Papai, quando é que vamos ver novamente o Frei Afonso?
– Domingo, na missa.
– Nãooo, papai. O Frei Afonso do parque.
– Meu filho, o Afonso do parque não é… Bem, deixa pra lá.
No dia de hoje, muito tempo passado dessa confusão, quando já pensava que o assunto estava esquecido, outro menino se apresenta como Afonso no parque.
– Papai, esse Frei Afonso é chato. Ele quer pegar a minha bicicleta.
Outro pai sem entender, muito menos a criança. Brincaram por algumas horas, até arrancarem todos os tampos dos dedos descalços, quando o Antônio, que ainda está aprendendo a falar, solta:
– Pa-pai. Frrrei Onso brincá (sic).
Eis que a confusão foi transmitida entre gerações. Creio que, a partir de agora, todo Afonso será Frei Afonso para meus filhos.