Cesar Augusto Cavazzola Junior
Quem são os brasileiros que conhecem os símbolos nacionais?
Não são poucos aqueles que acompanham as partidas desportivas rindo do balbucio dos jogadores. A realidade é que o Hino Nacional é de desconhecimento geral. Mesmo aquele que consegue cantá-lo perfeitamente pode desconhecer as nuances dos seus significados, como também a história da sua elaboração, talvez até porque, de maneira geral, o nacionalismo está longe de ser exacerbado: o futebol e o carnaval é o que aparece no cartão de visitas[1].
O Brasil não apresentou hinos próprios por muitos anos desde o seu descobrimento, pelo menos como a historiografia geral apresenta o conteúdo. Em Portugal a situação era a mesma: o Hino do Rei era substituído com o monarca.[2] A nação brasileira só pode contar com Hino próprio com a sua Independência.
A letra foi escrita por Joaquim Osório Duque Estrada e a música, elaborada por Francisco Manuel da Silva. O Hino Nacional Brasileiro foi criado em 1831 e teve diversas denominações antes do título, hoje, oficial. Ele foi chamado de Hino 7 de abril (em razão da abdicação de D. Pedro I), Marcha Triunfal e, por fim, Hino Nacional.
Com o advento da Proclamação da República e por decisão de Deodoro da Fonseca, que governava de forma provisória o Brasil, foi promovido um Grande Concurso para a composição de outra versão do Hino. Participaram do concurso, 36 candidatos; entre eles Leopoldo Miguez, Alberto Nepomuceno e Francisco Braga.
O vencedor foi Leopoldo Miguez, mas o povo não aceitou o novo hino, já que o de Joaquim Osório e Francisco Manuel da Silva havia se tornado extremamente popular desde 1831. Através da comoção popular, Deodoro da Fonseca disse: “Prefiro o hino já existente!”. Deodoro, muito estrategista e para não contrariar o vencedor do concurso, Leopoldo Miguez, considerou a nova composição e a denominou como Hino da Proclamação da República. [3]
Decreto 171, de 20/01/1890:
“Conserva o Hino Nacional e adota o da Proclamação da República.”
Primeira execução do Hino Nacional Brasileiro
13-04-1831
O Hino Nacional do Brasil já recebeu diferentes versões ao longo da história. A primeira data de 1822, com composição de Francisco Manuel da Silva. A música, inicialmente chamada de “Marcha Triunfal”, foi criada para comemorar a Independência do país de Portugal. A música tornou-se bastante conhecida e recebeu duas letras. A primeira, de autoria de Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva, foi produzida quando Dom Pedro I abdicou do trono. Ela foi cantada pela primeira vez em um dia como este, 13 de abril de 1831, no cais do Largo do Paço (ex-Cais Pharoux, atual Praça 15 de Novembro, no Rio de Janeiro), em desacato ao ex-imperador que embarcava para Portugal. Um dos trechos da letra era assim: Os bronzes da tirania/Já no Brasil não rouquejam/Os monstros que o escravizavam/Já entre nós não vicejam.
Com a posterior coroação de Dom Pedro II, sua letra foi trocada e a composição passou a ser considerada como o hino nacional brasileiro, embora de maneira não oficial. Após a proclamação da República, em 1889, foi aberto um concurso para um novo hino. O vencedor foi Leopoldo Miguez, mas ocorreram manifestações contrárias à nova música, e o presidente da República, Deodoro da Fonseca, oficializou como Hino Nacional Brasileiro a composição de Francisco Manuel da Silva, tornando a criação de Leopoldo Miguez o Hino da Proclamação da República. Durante o centenário da Proclamação da Independência, em 1922, finalmente, a letra escrita pelo poeta e jornalista Joaquim Osório Duque Estrada, em 1909, tornou-se oficial pelo presidente Epitácio Pessoa e permanece até hoje.
No final de setembro de 2009, tornou-se obrigatória a execução do hino nacional ao menos uma vez por semana nas escolas de ensino fundamental do Brasil. O Hino Nacional Brasileiro é um dos quatro símbolos oficiais da República Federativa do Brasil, conforme estabelece a Constituição. Os outros símbolos são a bandeira, as armas e o selo.[4]
10 CURIOSIDADES SOBRE O HINO NACIONAL BRASILEIRO[5]
1. Em 1831, Dom Pedro anunciou que estava deixando o trono de imperador do Brasil para seu filho, e que voltaria a Portugal. Foi a oportunidade que o músico Francisco Manuel da Silva estava esperando para apresentar sua composição. Ele colocou a letra de um verso do desembargador Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva, e o hino foi cantado pela primeira vez no dia 13 de abril de 1831, na festa de despedida de Dom Pedro I. Durante algum tempo, porém, a música teve o nome de “Hino 7 de Abril”, data do anúncio da abdicação.
2. A letra de Ovídio Saraiva foi considerada ofensiva pelos portugueses. Eles foram chamados até de “monstros”. Por isso, não demorou muito para que ela fosse rejeitada. No entanto, a partir de 1837, a partitura de Francisco Manuel da Silva começou a ser executada em todas as solenidades públicas.
3. Para comemorar a coroação de Dom Pedro II, em 1841, o hino recebeu novos versos, de um autor desconhecido. Por determinação do novo imperador, a música passou a ser considerada o Hino do Império, e deveria ser tocada todas as vezes em que ele se apresentasse em público, em solenidades civis e militares. Era também tocada no exterior sempre que o imperador estivesse presente. Francisco Manuel ficou bastante famoso. Recebeu vários convites para dirigir, fundar e organizar instituições musicais. Mas o Brasil continuava com um hino sem letra.
4. Quando a República foi proclamada, em 1889, o governo provisório resolveu fazer um concurso para escolher um novo hino. Procurava-se algo que se enquadrasse no espírito republicano.
5. Primeiro, escolheram um poema de Medeiros e Albuquerque que tinha sido publicado no jornal Diário do Comércio do Rio de Janeiro em 26 de novembro de 1889. É aquele que começa com o verso “Liberdade, Liberdade, abre as asas sobre nós”. A letra se encontrava à disposição dos maestros que quisessem musicá-la. No primeiro julgamento, no dia 4 de janeiro de 1890, 29 músicos apresentaram seus hinos.
6. A Comissão Julgadora selecionou quatro para a finalíssima. No dia 15 de janeiro, numa sessão em homenagem ao Marechal Deodoro no Teatro Santana, perguntaram ao novo presidente se ele estava ansioso pela escolha do novo hino. Ele disse: “Prefiro o velho”.
7. O mais aplaudido foi o do maestro Miguez, que também foi escolhido pela Comissão Julgadora. O presidente Deodoro e quatro ministros deixaram o camarote oficial e voltaram em seguida. Foi então que o ministro do Interior, Aristides Lobo, leu o decreto que conservava a música de Francisco Manuel da Silva como hino nacional. Mesmo sem a partitura, a orquestra tocou a música e a plateia delirou.
8. Como prêmio de consolação, a obra de Medeiros e Albuquerque e de Leopoldo Miguez ficou conhecida como o Hino da Proclamação da República. Só que o problema persistia: o Brasil tinha um hino sem letra. Mas, se a música já era tão bonita, por que precisava de uma letra? A resposta é simples: por mais que alguém se habitue a uma música, se ela não tiver letra, fica mais difícil de ser memorizada.
9. Só em 1909 é que apareceu o poema de Joaquim Osório Duque Estrada. Ainda não era oficial. Tanto que, sete anos depois, ele foi obrigado a fazer 11 modificações na letra. Duque Estrada ganhou 5 contos de réis, dinheiro suficiente para comprar metade de um carro. O presidente Epitácio Pessoa declarou a letra oficial no dia 6 de setembro de 1922, um dia antes do centenário da Independência. Como Francisco Manoel já tinha morrido em 1865, o maestro cearense Alberto Nepomuceno foi chamado para fazer as adaptações na música. Finalmente, depois de 91 anos, nosso hino estava pronto!
10. É desrespeito bater palmas durante a execução do Hino Nacional Brasileiro. De acordo com o Artigo 30 da Lei nº 5.700, de 1º de setembro de 1971, “durante a execução do Hino Nacional, todos devem tomar atitude de respeito, de pé e em silêncio, os civis do sexo masculino com a cabeça descoberta e os militares em continência”. O parágrafo único do mesmo Artigo ressalta ainda que “é vedada qualquer outra forma de saudação”. Não há, no entanto, nenhuma lei que proíba esse tipo de manifestação após a execução do Hino.
Versão simplificada
[1] “A identificação do povo com o Hino é mais do que necessária para que, ao ouvi-lo ou cantá-lo, se possa sentir ser ele, realmente, o porta-voz da nação, da alma do povo.” PEDRINHA, A.. A letra do Hino Nacional. Studia – Revista do Colégio Pedro II, Ano XI, Nº 11, 12/1981. In: ADORNO JÚNIOR, Hélcio Luiz, SILVA, José Luiz Pereira da. Apontamentos sobre a história e o conteúdo gramatical do Hino Nacional Brasileiro. Universitas. Ano 5, n. 8, Janeiro/Julho de 2012.
[2] “O período histórico compreendido entre o domínio holandês e a vinda da Família Real portuguesa, que se estendeu de 1654 a 1808, não apresentou novidades em termos de composição de hinos. A razão principal era a dependência do Brasil ao domínio europeu, que sufocava qualquer manifestação nacionalista, mesmo de ordem musical.”ADORNO JÚNIOR, Hélcio Luiz, SILVA, José Luiz Pereira da. Apontamentos sobre a história e o conteúdo gramatical do Hino Nacional Brasileiro. Universitas. Ano 5, n. 8, Janeiro/Julho de 2012.
[3] AGUIAR, Lilian Maria Martins de. “Hino Nacional do Brasil”; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/historiab/hinonacionaldobrasil.htm>. Acesso em 29 de junho de 2017.
[4] https://seuhistory.com/hoje-na-historia/primeira-execucao-do-hino-nacional-brasileiro
[5] http://guiadoscuriosos.uol.com.br/categorias/2545/1/10-curiosidades-sobre-o-hino-nacional-brasileiro.html