Cesar Augusto Cavazzola Junior
O século XV é marco da Revolução Comercial, período marcado pelas grandes navegações, que uniram o “velho” e o “novo” mundo, pelo desenvolvimento das cidades, que permitiram aprimorar os mecanismos de troca e a especialização do trabalho, pela formação dos primeiros Estados Modernos, centrais e monárquicos. Representou a transição de uma economia mundial estagnada, localizada em pequenos centros, em grande parte de subsistência, para uma relação entre as localidades em escala continental e global, fruto dos descobrimentos ultramarinos, pelo progresso das atividades bancárias e, sobretudo, pelo comércio.
Nesse contexto, foi o trabalho de alguns intelectuais que influenciaram na metodologia das ciências, estabelecendo a autonomia da razão, do que ficou conhecido como Racionalismo, sobretudo de quatro grandes pensadores da humanidade: Francis Bacon, Renè Descartes, John Locke e Isaac Newton. Queriam, basicamente, o avanço do saber, duvidando do conhecimento recebido no passado, marcado pela lógica escolástica. Tal período marcou o início do Modernismo, projeto empreendido que influenciou o desenvolvimento de áreas como a filosofia, as ciências, a cultura, como também as sociedades ocidentais.
O projeto moderno foi impulsionado com a Revolução Industrial, no final do século XVIII, período marcado pelo desenvolvimento do capitalismo econômico. Sabemos que o nascimento da fábrica especializou o trabalho humano, criando também segmentos nos demais campos laborais. O trabalho do cientista, do estudioso e do pesquisador foi essencial para a consolidação dos ideais modernistas.
As promessas nascidas com a modernidade se convertem em realizações materiais inegáveis. O mito do progresso, trazido à humanidade pelos modernistas, enfrenta um momento de crise, sobretudo pelo fato de, consensualmente, acreditar que o desenvolvimento tecnológico nos permitiria melhorar a qualidade de vida das pessoas, alcançar o bem-estar e a felicidade.
A modernidade representou uma exaltação das conquistas da ciência e das suas possibilidades ilimitadas, na qual a razão reinava no mundo, criando condições para a paz, a equidade e a justiça. Para Sébastien Charles,
A modernidade não apenas conseguiu concretizar os ideais das Luzes que objetivava alcançar, mas também, ao invés de avalizar um trabalho de real libertação, deu lugar a um empreendimento de verdadeira subjugação, burocrática e disciplinar, exercendo-se igualmente sobre os corpos e os espíritos.[1]
De qualquer forma, tais apontamentos podem ser questionados, pois há por de trás disso uma sociedade que tolera o convívio com a degradação humana, com a violência e outros males sociais. Geralmente, costuma-se “medir” tais passos pela quantificação de índices econômicos, mas no geral esses índices estão dissociados de índices de desenvolvimento humano. O Brasil, por exemplo, alavancou o crescimento da classe média, mas isso não implicou na redução das desigualdades sociais. O progresso, consequentemente, deve ser lido e medido não mais por critérios materiais e econômicos simplesmente, mas por outros fatores ligados à realização da dignidade humana, tais como saúde, educação, moradia, bem-estar.
A produtividade do trabalho proporcionou o aprimoramento da tecnologia, para que esta possibilitasse uma série de vantagens aos homens. As condições tecnológicas, que deveriam proporcionar tranquilidade, criar tempo e facilidades, podem ter feito surtir, assim, um efeito contrário ao que se propunha.
[1] CHARLES, Sébastien. O individualismo paradoxal: introdução ao pensamento de Gilles Lipovetsky. In: LIPOVETSKY, Gilles. Os tempos hipermodernos. Tradução de Mário Vivela. São Paulo: Barcarolla, 2004. p. 16.